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sábado, 10 de maio de 2008

Duas vezes Ana - de Fabrício Carpinejar

Quando amo, escrevo pelo medo de esquecer o desejo. Quando sofro, escrevo para desejar o esquecimento.

Fabrício Carpinejar

Ana, seu nome curto que me faz repetir duas vezes. Quando estou no escritório e grito: - AnaAna! E nunca tenho o que falar, eu grito para não perdê-la de vista. Várias vezes ao dia. Grito para saber onde está. Para localizá-la pela voz. Virei piada de nosso filho, que me imita ao sair para a escola.

Se me dói a separação momentânea pela própria casa, pode prever o quanto me dói nossa separação pelas ruas. Nossa separação pelas cidades. Nossa separação pelas palavras.

Caminho pelo terraço, as roupas balançam fanáticas no varal, meu rosto é uma laranja-de-umbigo. O sol apareceu depois das goteiras no quarto. Visto o abrigo azul, aquele que usou ontem– é curioso que repartimos os velhos panos do conforto.

Mas não é só isso: eu não sei o que é meu. Não sei realmente o que é mais meu. Éramos um colchão e uma prateleira de tijolos no início. Mais espaço livre do que corpo.

Na adolescência, eu tinha o meu quarto. Definido, imponderável quarto, ao fundo do corredor. Os pôsteres de rock, coleção de Placar e Playboy, roupas de surfista. Obrigava a qualquer um bater para entrar. Conhecia os objetos de cor e o pouso dos lugares. Defendia meu domínio. Hoje não posso nem me defender: porque eu sou tanto seu quanto já fui meu. As chaves têm o peso de minhas unhas. Sou tanto seu que não mais me pertenço. Encharcado de sua memória. Seus pais são meus pais, não canso de repetir sua infância para aumentar a minha.

Com a tempestade desde sexta, o Rio dos Sinos subiu para cinco metros. Eu também passei de minha altura e corro pelas calçadas procurando uma porta aberta.

Ao escutar algo engraçado, penso em você. Pela recompensa de ouvir sua risada. Será assim sempre. No rádio, o locutor errou o nome da peça e disse: "A sutil arte de escoar pelo rabo". Era “ralo”, e você riu quando descrevi a cena e pensou que inventei a história para lhe agradar. Faltou mesmo inventar mais histórias. Economizei sua alegria. Fui avarento.

Eu a observo com reverência. Admiração é para quem pode assinar seu nome. Tudo o que escrevi sobre você foi pouco, são papéis que deixei em minhas roupas e se acumularam nos bolsos de trás das calças depois da lavagem. Papéis picotados, farelos de uma distração incalculável. Sou esse papel que se esmigalha ao toque. Porque ele só existirá de verdade em sua pele.

Os bolsos de trás! Repara nos bolsos frouxos de suas calças jeans. Envelopes presos por um fio. Todos puxados pela minha mania de aquecer os dedos em sua cintura. Nunca dependi de luvas. Estou também descosturado.

Isso não é um texto, Ana, como os outros. É ainda meu grito. Parado no escritório. Ao lado do computador. Na primeira gaveta do lado direito.

AnaAna!

É raro encontrar um amor, mais raro merecê-lo.

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Quando escrevo exorcizo fantasmas, é meio abstração e também minha realidade se despindo.Sou eu me confessando a mi mesma.

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Escrevo para por no mundo pequenas ânsias, escrevo para aportar desejos aflitos, escrevo para me salvar, é como Jogar as âncoras, o barco ora vai ao sabor das ondas, ora é a deriva....
Escrevo para acariciar as suas almas,e ser tocada por seus olhos impressos de brilho!
escrevo para Gozar,Flutuar, ser e merecer, Escrevo para seus delírios, seu deliciar!
Escrevo para vocês,
Agradeço seus olhos em mim, na minha ruptura poética!
Escrevo!

Muito grata por me sorverem as letras!
A todos que aqui passarem seus olhos, mentes e corações!
Rose

Sobrepondo Sonhos.....