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sábado, 19 de setembro de 2009

Cosendo da vida pedaços...





Cosendo da vida pedaços...


Tinha mania de colecionar. Guardava tudo. Caixas vazias, ingressos usados, ticket de passagens seja de que transporte fossem, canetas sem tinta, pequenos vidros vazios, aquilo que para a maioria das pessoas parecia estranho, lhe era normal. Uma certa época colecionava conchinhas da praia, noutra sementes que achava diferente, houve um tempo que colecionou pequenos, pequeníssimos pedaços de tecidos que cortava em quadradinhos do mesmo tamanho, de cores e estampas diversas, e punha numa cesta de vime. Fez isso por meses, ao fim de um período alinhavou um ao outro, depois coseu cuidadosamente, passou dias assim, noites enfim. E uma imensa e colorida colcha de retalhos apareceu, que lavou , perfumou com saches embrulhou e deu de presente a uma amiga. O maior prazer estava no juntar, construir pouco a pouco, observar cada peça que integrava o conjunto. Era uma mulher cuja a vida tinha presenteado, mas ela não tinha a capacidade de perceber, divisava muito pouco, via bem, mas não enxergava além do que os olhos vêem.
Passaram-se muitos anos e hoje guarda consigo um rol de fios de prata nos cabelos, na face marcas que denunciam ao espelho: Nada é incólume ao tempo. Talvez sejam as únicas percepções que a levam ao concluir desse transpor, no mais continua coligindo quimeras.
Imagino que viva um construir material, quando na verdade sonha com afetos preenchendo seus armários, amores avultados em gavetas que exalem e derramem ao serem abertas. Cama desfeita com presenças concretas meio aos lençóis, realidade e fantasia.Utopia.
Entende-se com a paciência que assola suas quase descartadas expectativas. Mas não consegue estar bem se não houver algo a que cumular. Em alguns dias na sua assombrosa solidão, espalha todas as suas mil caixinhas por sobre a cama, os conteúdos em muito embolorados, papéis velhos, amarelados, pétalas de flores secas, um infindar de coisinhas aparentemente sem sentido, pequenas miudezas e delicadezas que para ela tem tamanha importância. Dia desses surpreendeu-me saber que anda enfiando um infindar de contas numa fina e delicada linha de seda, arte por demais trabalhosa, que faz com agulha onde fura as contas microscópicas de uma semente bem miudinha num fragilíssimo fio, um trabalho árduo, suas mãos em especial os dedos estão bem machucados, algumas sementes já guardam marcas de sangue, dos furos que por vezes, inumeráveis vezes chegam dolorosamente aos seus dedos. Quase que diariamente compõe o longo torçal,um crescer milimétrico que sequer consegue aparentar algum avanço.Mas percebo que é essa conclusão que se demora, e também a possibilidade do não saber, do perder-se ao caminho, sequer intuir do feito acabado que torna a vida possível.
Faz encontrar um pequeno gosto pelos dias que nascem em meio ao vazio.
Não há fim que seja provável, há uma tênue linha que separa o esperar infindo, de alguma perspectiva de esperança.

E ela segue, cosendo seus dias.

Um comentário:

Jorge Sader Filho disse...

Conheci a Rose poeta, gostando de todos os ramos do Verso.
A Roseane prosadora está mostrando um talento só visto nos grandes.
Fico feliz!

Beijos.

Dezembro vindo.....

Daisypath Anniversary tickers
Monarch Butterfly 2

Escrevo para.........

Quando escrevo exorcizo fantasmas, é meio abstração e também minha realidade se despindo.Sou eu me confessando a mi mesma.

Um Poetrix ...verdinho......


Escrevo para....

Escrevo para por no mundo pequenas ânsias, escrevo para aportar desejos aflitos, escrevo para me salvar, é como Jogar as âncoras, o barco ora vai ao sabor das ondas, ora é a deriva....
Escrevo para acariciar as suas almas,e ser tocada por seus olhos impressos de brilho!
escrevo para Gozar,Flutuar, ser e merecer, Escrevo para seus delírios, seu deliciar!
Escrevo para vocês,
Agradeço seus olhos em mim, na minha ruptura poética!
Escrevo!

Muito grata por me sorverem as letras!
A todos que aqui passarem seus olhos, mentes e corações!
Rose

Sobrepondo Sonhos.....