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sexta-feira, 22 de maio de 2009

Causos da mãe parteira ( Inspirado nos causo vivenciados pelas Parteiras Tradicionais das florestas)



Causos da mãe parteira

( Inspirado nos causo vivenciados pelas Parteiras Tradicionais das florestas)


Mãe Bené é ritinta, como se dizia antigamente, dada a sua acentuada negritude... e já se perdeu a conta da idade, penso que beira os cem, embora não aparente...
Mãe Bené sabe o que faz, não tem estudo, mas a sabedoria vem do passado, lá de trás, dos bisavós escravos, mas diz que aprendeu o ofício mesmo foi coma vó Diquinha...
Mãe Preta como é conhecida sabe sempre um chá ou ungüento para todo mal. Há quem conte que já curou de um tudo, picada de cobra venenosa então nem se fala. Benze criança mofina, tira mal olhado, puxa barriga de mulher pra por o menino no lugar,costura rasgadura com o copo (ventosa) é mulher de mil ofícios e naquele lugar um fim de mundo é mais que a médica, curandeira, tem a confiança,o respeito do povo.

Mas o que ela faz bem mesmo e que perdeu as conta é pegar menino. Ali nos arredores vem de gente de toda paragem ou ela vai em desafio no lombo de burro ou cruzando rios nos casquinhos, levar seu Dom como diz seu socorro e prontidão as que querem por no mundo as crias, e se gaba de nunca ter perdido um, já pegou menino de todo jeito de toda dificuldade. É mulher crente em Deus,que afirma ser quem a guia.
Guarda mais segredos que os confessionários...

Mais ou menos assim o causo de “Das Graça”.
Era uma menina assim mirrada, encabulada a filha do seu Aparício lá das bandas do Pontal. Das Graça uma morena apurada garrou uma moleza, uma amarelidão e não saia mais du fundo da rede, como tinha os olho triste aquela menina...
Dona Moçinha ficou cismada, agoniada, num aperreio correu lá na Mãe preta e falou;
_ deve de ser um Mal-olhado comadre, a menina ta que não se agüenta, a modo que uma boa garrafada pode curar...
Mãe preta do alto de toda sua sabedoria, calma toda vida, disse:
_ mande ela aqui comadre, pra Deus não há impossível, mas mande logo...

Dois dias depois Das Graça varou a lonjura e chegou lá no Sítio, veio de pés, um dia pela estrada de chão, calor demais, choveu...
A menina chegou molhada, afugaiada, quase tendo um passamento. Nada que um chá não resolva, pensou a puxadeira, mas é que ela mesma não se convencia aquela menina tava estranha.
Mãe Bené benzeu, rezou, decidiu puxar, puxou,vai que tinha um espírito. Aparpou, e só não assustou porque é nega velha ressabiada...
Parpou de novo, pra ter certeza, nunca falava nada de vez, só no tempo certo. Saiu.
Foi na cozinha, pôs fumo no Cachimbo, deu uma longa baforada... pôs um bom tacho de água no fogão...matutou com seus botões e voltou.
Falou pra Graça:
_ O menino ta em petição de nascer, e vai ser agora...

Das Graça chorou inconsolável, nem namorado tinha a pobre, os compadre ia por ela porta fora, ou iam surrar até tirar sangue, mãe Bené sabia...
Mãe preta assuntou, pensou, e disse:
_ menina o que ta ai no teu bucho tem que sair depois nós pensa no depois...

E lavô bem as mãos...
Foram horas sem fim,
Das Graça era franzina, tinha quinze, mas parecia que tinha treze, doze, e a cria era grande... Bené não tinha visto nada parecido, a pequena não teve os sinal, nem dor, e como se escondia aquela barriga?
Não tinha água, era só menino encaixado bem dentro a modo que ninguém sabia, nem Das Graça que achava que a regra não vinha porque tava com anemia...
Ai ai...
Dois dias depois chegou na roça, aliviada, a mãe preta tinha lhe tirado a panema.
_ Só ela mesmo, abaixo de Deus!
Disse a comadre.

Mãe Bené havera criado alguns, compadecida. Mas a Greicy era diferente...
Alvinha como algodão e os olhinho azul, azul...

Em quilômetros nem ali nem nos povoados por perto tinha caboclo assim...
Lá pelas bandas do "Vai-quem-Quer” num tinha nem escola que dirá Igreja.
Quando tinha um morto pra rezar ou menino pra batizar vinha lá da capital algum padre, dependendo da boa vontade da Paróquia.
Tinha mais de um ano e meio que apareceu por lá um moço que foi benzer S. Coutinho antes de partir dessa pra melhor.
Passou por lá só uma horinha...
E tinha um olho azul o danado!

Eu não sei de nada não, quem conta isso é mãe Bené...

Ah, a Greicy é uma flor de formosura, já tem dez aninhos e não entende porque aquele povo olha tão ensimesmado para ela.

Deve ser porque é danada de bonita essa menina, diz Mãe Bené!





# nestas paragens tem uma longínqua localidade que se chama “ Vai- quem - quer”, no mais ficciono o cotidiano dos interiores, das localidades daqui...

# Imagem obtida na Internet.

2 comentários:

Jorge Sader Filho disse...

Surpreedente! A Rose dos poemas curtos revela-se uma cronista muito experimentada. Texto para ser lido com o respeito que merece.
É digno de qualquer grande pessoa que escreva. Escreva bem, claro...
Beijos.

Roseane Ferreira disse...

brigada!
Só fico na duvida as vezes, apesar de ler basatante.. quero escrever um Conto e ele vira Crônica....
mas enfim!
Acho que bacana mesmo é o contexto!
abraços
Rose

Dezembro vindo.....

Daisypath Anniversary tickers
Monarch Butterfly 2

Escrevo para.........

Quando escrevo exorcizo fantasmas, é meio abstração e também minha realidade se despindo.Sou eu me confessando a mi mesma.

Um Poetrix ...verdinho......


Escrevo para....

Escrevo para por no mundo pequenas ânsias, escrevo para aportar desejos aflitos, escrevo para me salvar, é como Jogar as âncoras, o barco ora vai ao sabor das ondas, ora é a deriva....
Escrevo para acariciar as suas almas,e ser tocada por seus olhos impressos de brilho!
escrevo para Gozar,Flutuar, ser e merecer, Escrevo para seus delírios, seu deliciar!
Escrevo para vocês,
Agradeço seus olhos em mim, na minha ruptura poética!
Escrevo!

Muito grata por me sorverem as letras!
A todos que aqui passarem seus olhos, mentes e corações!
Rose

Sobrepondo Sonhos.....